Em função disso as pessoas são enganadas pelas mais triviais das falácias, como acidente, afirmação do consequente, negação do antecedente, Red Herring e pressuposição aplicada a conjuntos de axiomas.
Vejo tais falácias chulas nos mais diversos textos, geralmente usados para defender ideias da moda. Pensando nisso, eu e meu amigo decidimos que eu deveria escrever este artigo explicando o básico da Álgebra Booleana, que também é totalmente relevante para programadores.
Pensamento binário
A Álgebra Booleana é baseada no concento de verdades: cada proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou falsa e é representada em sua forma mais simples por uma letra maiúscula.
Quando uma proposição aparece sozinha, assume-se que ela é verdadeira.
Por exemplo:
A
Indica que a proposição A é verdadeira.
O operador ¬ indica negação, então:
¬A
Indica que a negação da proposição A é verdadeira, ou seja, que a proposição A é falsa.
Operações booleanas
Assim como na Álgebra Elementar, a Álgebra Booleana possui operações, chamadas operações lógicas.
As operações mais conhecidas são: E lógico (∧), OU lógico (∨), OU exclusivo (⊕), implicação (→) e equivalência (↔), além da negação (¬), que já vimos.
E lógico
A operação E lógico relaciona duas proposições e a expressão formada é verdadeira se as duas proposições forem verdadeira, caso contrário é falsa.
A tabela é:
+---+---+-----+
| A | B | A∧B |
+---+---+-----+
| V | V | V |
| V | F | F |
| F | V | F |
| F | F | F |
+---+---+-----+
Ou seja, a seguinte afirmação:
A∧¬B
Indica que tanto A quanto ¬B são verdadeiros, ou, de modo mais simples, que A é verdadeiro e B é falso.
OU lógico
A operação OU lógico relaciona duas proposições e a expressão resultante é verdadeira se qualquer uma das duas proposições for verdadeira, caso contrário é falsa.
+---+---+-----+
| A | B | A∨B |
+---+---+-----+
| V | V | V |
| V | F | V |
| F | V | V |
| F | F | F |
+---+---+-----+
Por exemplo:
A∨B
Indica que A é verdadeiro, B é verdadeiro ou ambos são, não permitindo que saibamos qual dos casos, nos obrigando a apelar a outra expressão para descobrir.
Então:
A∨B
¬A
Sabemos então que A não é verdadeiro, restando apenas uma opção para validar a expressão, que é quando B é verdadeiro. Podemos escrever isso da seguinte forma:
A∨B
¬A
├ B
O sinal ├ significa «cocluímos que…». Então, se A ou B é verdadeiro e A é falso, concluímos que B é verdadeiro.
Falácia do OU lógico
Repare na tabela que dizer que um dos elementos é verdadeiro não garante que o outro seja verdadeiro ou falso, ou seja, tanto V∨F quanto V∨V são verdadeiros. Daí concluir:
A∨B
A
├ ¬B
É um erro!
Por exemplo, digamos que sabemos que alguém nadou na piscina, pois as bordas estavam molhadas. As suspeitas são Pedro e João. Sabemos que Pedro nadou na piscina, logo deduzimos que João não nadou.
Ora! O fato de Pedro ter nadado na piscina não significa que João não tenha nadado também.
OU exclusivo
Esta operação é o OU a que estamos mais habituados na linguagem comum. Ou uma proposição é verdadeira, ou outra, mas não as duas:
+---+---+-----+
| A | B | A⊕B |
+---+---+-----+
| V | V | F |
| V | F | V |
| F | V | V |
| F | F | F |
+---+---+-----+
Geralmente não tem consequências maiores, a menos quando o OU lógico é confundido com o OU exclusivo, como na falácia anterior.
Implicação
A implicação é a operação lógica mais explorada pelos maliciosos que pretendem enganar os desavisados.
Funciona da seguinte forma: se a primeira proposição for verdadeira, a segunda também será, caso contrário nada se sabe da segunda proposição.
A tabela diz o seguinte:
+---+---+-----+
| A | B | A→B |
+---+---+-----+
| V | V | V |
| V | F | F |
| F | V | V |
| F | F | V |
+---+---+-----+
Então a conclusões que podemos tirar são:
A→B
A
├ B
A→B
¬B
├ ¬A
Afirmação do consequente
É quando se usa a consequência para afirmar o antecedente:
A→B
B
├ A
Veja na tabela que tanto V→V quanto F→V são verdadeiros, assim afirmando o consequente não é possível dizer nada do antecedente. É uma falácia!
Por exemplo (da Wikipédia): onde há carros, há poluição. Portanto, se há poluição, deve haver carros.
Negação do antecedente
É quando se usa a negação do antecedente para negar a consequência:
A→B
¬A
├ ¬B
Veja na tabela que tanto F→V quanto F→F são verdadeiros, então se o antecedente for falso, nada se sabe da consequência.
Por exemplo: se o rio for fundo, é possível que haja crocodilos. Como o rio não é fundo, não deve haver crocodilos.
Equivalência
A equivalência diz que as duas proposições são falsas ou que as duas são verdadeiras:
+---+---+-----+
| A | B | A↔B |
+---+---+-----+
| V | V | V |
| V | F | F |
| F | V | F |
| F | F | V |
+---+---+-----+
Seu perigo é quando a operação de implicação é confundida com ela.
Acidente
Acidente consiste em tomar o todo pela parte. Se há religiosos fanáticos, então todo religioso é fanático; ou: se há ateus não fanáticos, então nenhum ateu é fanático. Conclusões erradas.
As operações envolvidas são um pouco mais complexas, ∃ (existe) e ∀ (para todo). Não vou entrar nesse mérito, já que foge ao escopo do artigo.
Red Herring
Consiste em distrair o interlocutor com afirmações (geralmente verdadeiras) que não têm relação de consequência com a conclusão.
A
B
C
D
├ E
Por exemplo: este prédio sofre muita infiltração devido à grande quantidade de pinturas de paisagem oceânica pelas paredes.
Costuma ser muito usada em combinação com as falácias de afirmação do consequente e de negação do antecedente, para que o interlocutor se distraia e não as perceba.
Pressuposição de axiomas
A pressuposição é a falácia onde uma verdade não comprovada é pressuposta para validar uma consequência:
A→B
├ B
Mas geralmente é óbvia demais, então é usada com conjuntos de axiomas.
Axiomas são afirmações que se intervalidam, garantindo que ou todas são corretas, ou todas são falsas:
A→B
B→C
C→D
D→A
├ A
É interessante lembrar que, ao contrário do que os defensores ferrenhos da onisciência da Ciência Humana dizem, o conhecimento científico oficial é baseado mais em conjuntos de axiomas – e até alguns postulados – do que em observação e prática.
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Fica então a dica: não se deixe enganar por falácias!
Você pode encontrar mais sobre falácias na Wikipédia.
E a Álgebra Booleana é amplamente utilizada na programação.
[]’s
Cacilhας, La Batalema